Os últimos meses não sei bem quantas linhas:
Da irregularidade dos treinos já me ia habituando. Do sofrimento neuromuscular quando fazia treinos de corrida, sobretudo em trilhos, já tinha tomado consciência há muito. Do sempre "peso elevado" já estava conformado ( gosto de comer e não tenho idade para "privações"). Além disso, os meus 1,82cm de "constituição forte" nunca farão de mim um tipo propriamente "elegante". Dos treinos de bicicleta, há muito que perdi a tertúlia da "margem sul" e a vontade de arranjar outras por Lisboa. Posso dizer que gosto de pedalar, mas a motivação para arrancar sozinho para o mato ou para a estrada ou até para a cidade ( aquelas voltas circulares em ciclovia a Lisboa), estava nos últimos tempos próxima de 0. Com isto e face à ameaça de "não fazer ponta de corno" depois dos exigentes e longos turnos do trabalho, há seis meses virei as agulhas para um "ginásio", onde confesso, contra os preconceitos que tinha destes espaços, até me dou por lá muito bem. Primeiro maravilhei-me com as aulas de Pilates e de Bodybalance, por fim não perdia um RPM ao som da música tecno, depois fazia umas máquinas de musculação, dava umas braçadas na piscina e para finalizar um jacuzzi ou um banho turco, estava mesmo numa nova fase da minha vida desportiva e estava a gostar! Mas a vida de um homem como eu, apelidado de "fatalista" desde tenra idade ( tenho uma lista de "fatalidades" que me perseguem desde que me lembro), esforçado em contrariar o "desígnio" e a consequente mistificação da realidade, é cheia de inesperados. Costumo parafrasear várias vezes o ditado: " não acredito em bruxas, mas que elas existe, lá isso é verdade" Primeiro comecei em Janeiro com uma dor na virilha que se alastrava pelo quadricipe a baixo. O diagnóstico mal feito ( até pelo ecografista), estava já a atira-me para a mesa de operações com uma hérnia inguinal, quando sofri a crise que me mantêm em casa de baixa vai para três meses. Um dia normal ( de stress claro está), idas aqui e ali e um treino intenso no ginásio, que me recordo ter corrido muito bem, daqueles dias em que estava com força e muita vontade para treinar. No final do dia dor intensa no quadricipe e costas, o primeiro a contrair-se involuntariamente, parecendo que tinha bichos sobre a pele que o percorriam e uma dor, uma dor simplesmente enlouquecedora! Vou a uma urgência hospitalar, cada vez pior, mal podia andar e manter-me em pé ( caminhava dobrado e agarrado à perna). Raio X, analgésicos intravenosos e saio de lá praticamente na mesma. Dois dias depois, nova urgência, novos medicamentes e dores, dores, horríveis, como nunca tinha tido e eu que até tenho uma boa colecção delas. Segunda, nova urgência, já a tomar um opiáceo. Tentativa para fazer uma ressonância que não consigo fazer, paesar de estaruUm dia inteiro em SO a tomar todo o tipo de porcarias ( das quais paguei um dinheirão num hospital particular). Três dias depois, novo Hospital, desta vez das forças armadas, onde consigo fazer uma TAC e sou encaminhado para o neurocirurgião na semana seguinte. Os opiáceos atenuavam a dor, os relaxantes musculares permitiam-me dormir melhor, mas a dor mantinha-se insuportável. A primeira consulta com o referido cirurgião foi surreal. Não me queria receber porque os funcionários tinham marcado mal a consulta. Quase implorei, dizendo-lhe " não está a ver o sofrimento em que estou?". Ai senti que a minha "fatalidade" é em grande parte a de viver num país onde a empatia é um "bicho estranho", salvo saudáveis, mas raras, excepções. Acedeu contrariado. Na análise, hérnia foraminal, coisa rara 5% a 10% dos pacientes, mais mulheres que homens ( isto de ter coisas de gaja deixa-nos sempre cheios de medo:-). Sentença: cirurgia!
Não fosse o anestesista, estar de férias e a lista de pacientes ser grande, a esta hora já tinha uma facada nas costas. Em vez disso, procurei recompor-me, fugir à operação e aos 5 comprimidos que tomava todos os dias. Fui a um osteopata e fiz acupunctura. Não sei ainda quais os resultados evidentes disto, porque piorei nos dois dias seguintes, embora que tenha sentido mais "desbloqueado". Assim que pude comecei a fazer pequenas caminhadas na praia e depois aqui ao pé de casa e mesmo com dores no durante e no depois lá continuei. Fui informando o referido clínico que estes esforços estariam a resultar, já caminhava mais direito, menos dorido, menos coxo e mais animado. Deu-me por isso mais tempo. Até agora, onde finalmente já lhe posso dizer para adiarmos essa operação por tempo indefinido. Sei que não me escapo de um destes dias estar numa sala de operações, ambiente que abomino. Mas as duas hérnias que tenho e uma artrose num disco e uma antro retro listese não me dão muita margem de manobra. Tenho uma lombar de velho e uma cervical de jovem disse-me o médico! Entretanto voltei ao ginásio com exercícios de reforço abdominal e lombar, bicicleta e natação. Correr está quieto, a minha perna esquerda perdeu 80% da força e os reflexos. Quando me batem com um martelo no joelho e a perna não responde nem um milimentro. Provavelmente ficarei com estas sequelas e outras para sempre, nomeadamente alguma atrofia muscular ( que melhorei nos últimos tempos), mas estou na luta!
Agora imagino caminhadas, aqui e ali, um pouco por todo o lado, PR's, GR's, por esse país fora e montanhas: Pirinéus e regressos aos Picos da Europa e Alpes. Lá vou idealizando também uma tiradas de longo curso em bicicleta "turística", talvez Caminhos de Santiago um dia. Não faz mal um tipo sonhar um bocadinho pois não?! Afinal sou um miúdo próximo da casa dos 50, ainda há muito para curtir. Trails, corridas de aventura, Triatlos e afins, estão fora de questão, talvez só mesmo as habituais travessias de natação em águas abertas, mas devagarinho ( também já assim eram).
Resumindo e baralhando, esta é a minha "história" dos últimos meses, de outras histórias, nem vale a pena contar-vos, senão diriam comigo em coro: " não acreditamos em bruxas, mas que elas existem, lá isso é verdade"!