terça-feira, novembro 20, 2007



PRESS RELEASE - II CAMPEONATO IBÉRICO DE CORRIDAS DE AVENTURA




Decorreu este fim-de-semana na região do Alto Tâmega - Barroso o II Campeonato Ibérico de Corridas de Aventura numa organização da associação transmontana Montes e Vales com o enquadramento técnico da Federação Portuguesa de Orientação e apoio da Associação Portuguesa de Corridas de Aventura. Nele estiveram presentes mais de 50 equipas oriundas de Portugal e Espanha nos diferentes escalões de competição: elite masculina, mista e aventura.
A prova constituída por 11 etapas numa altimétria variável entre os 300mts e os 1500mts e somando mais de 200km de orientação em BTT, corrida pedestre, canoagem e outras disciplinas, testou a perícia e resistência dos atletas num mapa de orientação difícil, não só pelas já referidas condições do relevo, riqueza de detalhes, desactualização de algumas redes de caminhos, sobretudo os do lado espanhol, mas também pela exigência imposta a um competitivo campeonato ibérico. A somar a estas condições uma meteorologia quase polar, sobretudo na 1ª etapa do 2º dia, onde se registaram temperaturas negativas, a mais baixa de -14º (!), que fizeram com que o rio onde deveria decorrer uma das etapas de canoagem, estivesse quase na totalidade coberto com enormes placas de gelo.
As estas adversidades souberam resistir as 48 equipas finalistas que mostraram que a beleza deste desporto em natureza está no espírito de equipa no qual a entreajuda e tenacidade dos seus membros frente a situações limite é o factor decisivo para o sucesso competitivo.
De referir ainda a excelência organizativa que proporcionou a todos um evento numa paisagem de extraordinária beleza e quase em estado selvagem. Uma riqueza natural a ser sustentávelmente rentabilizada e preservada por todos.
Quanto aos vencedores, as equipas espanholas com maior experiência internacional (em resultado também de maiores e melhores apoios) impuseram-se às portuguesas. Ainda assim a “luta” foi renhida, eis os resultados.
Para breve o relato na primeira pessoa, com as experiências vividas junto da equipa CAB/ESTORIL XPD RACE

segunda-feira, novembro 12, 2007

UP HILL - DOWNHILL CORRIDA DO MONGE - SINTRA




77ºJosé Neves Lebres do Sado 12 V2 01:04:17 ( entre 214 classificados)

Foto: Carlos Viana Rodrigues - AMMA Magazine - Site de divulgação desportiva e outros serviços.

Num fim-de-semana recheado de montanha (ver mensagem anterior), estive na presente na partida da 15ª edição da Corrida do Monge, prova disputada na Serra de Sintra entre a localidade de Janes da Malveira e um dos seus cumes mais altos: o Monge.
Não será necessário repetir que a minha recuperação não estava a ser a melhor para aquele que virá a ser o desafio deste mês: a participação no 2º Campeonato Ibérico de Corridas de Aventura. Desta forma, com a promessa sempre incapaz de cumprir, disse para os meus botões e para aqueles que já me vem acusando de “andar a fingir de morto para apanhar o coveiro” que esta prova “será (seria) apenas um treino”. Foi palavra de escuteiro durante pouco mais de 3 minutos, passando a uma “mentira que merecia um puxão de orelhas”a partir daí. Certo é que fiz uma razoável prova, levando-me a concluir aquilo que já tinha pensado em diversas ocasiões: é que até tenho jeito para trepar uns montes! Claro que ainda não experimentei o Ultra Trail do Monte Branco, e a Serra da Freita mantêm-se com o adjectivo de “ fiasco”, ainda assim…
Em conclusão: uma belíssima prova de atletismo em “up hill, downhill” que merecia uma outra divulgação e apoios, pois decorre num cenário de rara beleza que urge divulgar e preservar. Mais um momento de prazer desportivo e convívio, que também foi familiar e… se os deuses quiserem até para o ano!

segunda-feira, novembro 05, 2007

OS BELOS E NATURAIS MISTÉRIOS DE SINTRA



Em plena Serra de Sintra na direcção do Cabo da Roca



No Cabo da Roca



Nas escadarias do Palácio da Vila com o Luis Miguel, Fernando Andrade, Eduardo santos e José Martins.

Fotos: Margarida Henriques " o mundo da corrida com"

Tentei vezes sem conta fugir aquilo que parecia ser quinze dias depois de uma maratona

quinta-feira, outubro 25, 2007

Maratona do Porto - a melhor maratona portuguesa




Fotografias gentilmente cedidas pela AMMA ( Atletismo Magazine Modalidades Amadoras)

Maratona do Porto 2007, a melhor maratona portuguesa.

Num ano especialmente atribulado posso dizer que o balanço desportivo até aqui nem é nada mau. Se considerar que apesar das agendas profissional, escolar e familiar estarem muito preenchidas (mais recentemente um pouco menos) este ano foi até aqui ( e portanto será definitivamente com a vantagem de poder torná-lo ainda mais ) o ano em que mais provas de distância igual ou superior à maratona fiz. Posso afirmar então que este será um o ano mais “maratonístico” de 13 anos de prática desportiva ininterrupta ( com os seus momentos de maior ou menor motivação e/ou disponibilidade)! Apesar dos “altos e baixos” o ano começou com uma tentativa desastrada de fazer a maratona de Badajoz que tinha como principal objectivo servir de preparação para a ultramaratona Caminhos de Santiago Trail Aventura em Abril. Efectivamente um mau planeamento do treino, indisposição física e um dia gélido de Janeiro, acabaram com as minhas aspirações logo aos 11km de prova. Não desisti da intenção e em Abril, um tanto ao quanto inesperadamente e um pouco a contra gosto (apesar de ser a minha primeira experiência na prova os relatos da qualidade organizativa não eram animadores o que de facto tive o (des) prazer de confirmar) corri em Lisboa a maratona Carlos Lopes. Esta correu-me bem, apesar de a ter feito em ritmo de treino (dentro de duas semanas esperava-me um “empeno monumental” de 150km) e… até gostei do percurso! Mas o meu maior prazer foi mesmo ter cortado a meta com a minha filha de 3 anos, a minha principal fã e uma das pessoas que mais me inspira e dá vontade de continuar nestas “andanças” (esta experiência paterna fará parte da sua “herança”).
Abril a fechar com a primeira ultramaratona da minha “carreira”, foi um momento alto que tive a oportunidade de relatar na Revista Atletismo ( se bem que com o constrangimento de ter sido escrito num período bastante atribulado das tais “agendas” que falei de início) e agora em versão “corrigida” nos Trilhos Míticos. Julho a começar com o Ultra Trail Serra da Freita, 50km numa paisagem fabulosa, um “estoiro” aos 30km e algumas críticas que oportunamente farei à sua organização, completavam pensei eu o meu calendário de distâncias longas de 2007, isto porque efectivamente a indisponibilidade para treinar era quase total então.
Como nem só de agendas vive o homem, pois as rotinas levam-nos depressa à “mania” de uma absurda ritualização do quotidiano (uma forma insuspeita mas perigosa de baralhar os neurónios e candidatarmo-nos a servir de tubos de ensaio para a indústria farmacêutica dos tranquilizantes e afins), em Setembro decido avançar para a preparação da Maratona do Porto a realizar no mês seguinte. Preparar uma maratona requer disciplina, treino, persistência, uma alimentação correcta e… pelo menos três meses de treino para atletas habituados à distância. Reunia a última condição mas não as restantes. Ainda assim, motivado pelas boas impressões transmitidas por aqueles que já tinham nela participado em edições anteriores e pelo necessidade de recuperar a sanidade mental ( digo eu) começo a treinar para a Maratona do Porto 2007 na sua 4ª edição. Com quatro sessões longas de corrida (das 2.30 até 3.30), duas de caminhada (4 e 6 horas respectivamente) alguns treinos de ciclismo e natação, para além de outras sessões de corrida que não ultrapassaram a 1h30, lá vou eu numa bela manhã de Outono a caminho da Maratona de Porto.
Modesta mas bem organizada feira da maratona e respectiva “festa da massa”, foram de entrada as (boas) primeiras impressões que tive desta prova. Gente conhecida, simpatia e demonstrações de amizade enquadrados num ambiente com música ao vivo, foram um dos aperitivos para o “dia seguinte”. Outro foi uma caminhada de 4km de ida e volta ao longo da bonita Av. Da Boavista com as suas casas de estilos arquitectónicos “ricos” quer pelo bom gosto, quer pelo dinheiro dos seus proprietários, como eu estava a gostar do Porto…

A habitual insónia fruto da ansiedade da véspera de prova, não existiu. Motivo: cansaço da viagem, caminhada nocturna e noite da antevéspera em “branco”. Desta forma acordei repousado e tranquilo. Não abusei das iguarias hoteleiras ao pequeno almoço, cheguei na hora e sem “stress”, encontrei um ambiente digno de uma festa desportiva, e, aqui vou eu de peito ao vento para a minha 5ª maratona e uma promessa pública de fazer um tempo aproximado das 3h30. De facto tive a sorte e a esperteza de me ter posicionado bem e estar acompanhado de corredores com um ritmo idêntico ao meu. Assim os primeiros quilómetros de uma bonita manhã com temperatura amena numa varanda privilegiada para a foz e rio Douro, foram bem “consumidos” a um ritmo de 4m50 por quilómetro.
A animação em torno da prova era, na minha opinião, a melhor que alguma vez tinha assistido em provas de maratona em Portugal ( nós sabemos o quanto habitualmente são pobres), os abastecimentos até aos 21km de prova sem mácula e a companhia (agora mais reduzida) excelente! As condições para fazer uma boa prova estavam reunidas. As “dores adaptativas” começaram por volta do quilómetro 26, nada de anormal portanto, passando para as chamadas de “sofrimento” a partir do quilómetro 38, o que também não é nada de estranho nestas distâncias. Antes disso, “no melhor pano caí a nódoa” e a organização “faltou” com o abastecimento de isótonico entre os quilómetros 26 e 35, mas até aqui, nada que comprometesse seriamente o seu bom trabalho. O meu grupo já se encontrava reduzido a três regulares elementos, ou seja aqueles que não tinham “chocado contra o muro dos 30km”. Eu estou como no anúncio da “red bull” ( embora não o tenha bebido), ou seja a “voar”, e até danço à passagem por uma banda de música brasileira que animava os já muitos desanimados atletas da maratona e ½ maratona entretanto “misturados”. Ao quilómetro 36 depois de um abastecimento de sólidos fico então sozinho (desculpem a traição companheiros), mantenho um ritmo regular, embora com a (já) consciência de que não baixaria do objectivo proposto, sinto pela primeira vez calor e imagino que já devo ter a tal “máscara de esforço” que nos dá (maratonistas) umas originais expressões para os fotógrafos e espectadores da prova e é desta forma corto a meta com 3h32. Nada mau, pois o retorno tinha mais subidas, o (muito) empedrado da prova torna-se numa espécie de “monte de pedras desordenadas” e o abastecimento tinha sido mais “deficiente” que na 1ª parte da prova (e é na 2ª que mais precisamos que seja o contrário). A juntar a estas condições externas as internas: pouca preparação específica e peso a mais. Estava portanto satisfeito com o resultado produzido, tinha participado no que já podia afirmar ser a melhor maratona em Portugal e uma das melhores da minha vida. Somando estes aspectos á boa companhia que desfrutei antes, durante e depois da prova e a uma gastronomia que nos candidata ao respectivo “pecado mortal” , passei dois dias inesquecíveis na cidade do Porto. Para o ano contem comigo para a 5ª edição da Maratona do Porto, tudo farei para estar presente.

terça-feira, outubro 16, 2007

CAMINHO DE SANTIAGO TRAIL PARTE V



Foto: Trotamontes

Quanto os “atletas peregrinos” partiram para a etapa da tarde, a grande maioria tinha a confiança em alta. Afinal tínhamos completado parte do percurso, seguia-se a última e derradeira etapa do dia com uns (mal) previstos 28 Km (medidos pelo Road book oficial do caminho). Esta distância não seria novidade para a maioria dos atletas já habituados a aventuras do género, contudo a temperatura havia subido, o caminho tinha mais “alcatrão”, exigia-se roupa mais fresca e maior consumo de líquidos (facto que não foi muito acautelado por alguns). Na partida a já habitual boa disposição e mais uma “fragmentação” do pelotão, desta feita ainda dentro da cidade de Valência, seguiu-se a travessia do Rio Minho pela antiga ponte de ferro e a entrada na zona histórica da cidade Tui, finalmente estávamos em Espanha!
Era aqui que se iria desenrolar a maior parte da prova. Há semelhança do que acontecera de manhã, eu segui com um chamado “segundo grupo”, inicialmente o mais numeroso, mas que também se foi dividindo pouco a pouco ainda dentro das ruelas da referida cidade galega em grupos menores de dois, no máximo três a quatro atletas.
Após as duas cidades, a paisagem nos primeiros quilómetros continuou a ser campestre e ricamente “decorada” com motivos arquitectónicos ligados caminho. Contudo isso depressa acabou à medida que nos aproximávamos da cidade industrializada de Põrrino onde a travessia das estradas em alcatrão começou a ser cada vez mais frequente. Aqui cometo o meu primeiro erro, na tentativa me juntar a outros dois atletas mais à frente, eu e o companheiro que estava comigo no momento, acabamos por prestar pouca atenção à sinalética que indicava o caminho e enganámo-nos no percurso. Afinal, um erro grosseiro também cometido por aqueles que “perseguíamos” . Como resultado disto vimo-nos os quatro inesperada e perigosamente “dentro” de uma auto-estrada que nos levaria a Santiago… mas só de carro.
Não sei se foi este facto que nos vez correr mais uns quilómetros, se o calor que apertava e como consequência aumentava as necessidades de abastecimento, se a informação de que a etapa afinal era mais comprida que o previsto, a minha confiança e a dos meus companheiros foi afectada de forma muito particular traduzida pela forma como se encararam as etapas que se seguiriam. Apesar disso e depois de sucessivas “trocas” de parceiro ( o primeiro "rebentou" aos 25km), cheguei ao final da etapa na cidade de Redondela na companhia do veterano e pioneiro das “Voltas ao Minho” o José Ribeiro (que lamentavelmente no dia a seguir teve de desistir por lesão num pé), que com a sua experiência ajudou-me a superar uma das etapas mais duras destes caminhos, curiosamente aquela em que fiz a melhor média por quilómetro (3:58:55 - 6:38 m/km, isto se calcularmos "apenas" 36km). O sucesso de ter chegado ao fim da etapa a correr teria sido certamente do andamento mais “económico” da manhã e que tinha permitido a poupança de forças para a tarde. Estava pois feliz pela estratégia.
A dureza da etapa tinha consumido o stock de energia do dia. Estava desgastado muscular e articularmente à semelhança da maioria dos companheiros e isso estava patente nos rostos e no “andar novo” ao estilo do de “Charlie Chaplin” (espero que consigam ver a caricatura) que todos ostentavam. Uma das causas seria o inegável facto de que o inesperado aumento da distância de 28 para 36 km (somando os que alguns fizeram a mais) fizera “mossa”, outro seria a “contabilidade” da prova que nesta altura já somava uns “bonitos” 70km.
Entregues aos cuidados das “comezainas” e do massagista Valdemar Damião, o grupo recuperou a boa disposição e a certeza de chegar a Santiago, mas surgiram as primeiras baixas no grupo dois atletas tinham desistido de completar o “Trail Caminho de Santiago Aventura”. Agora restava-nos descansar para o "dia seguinte".

terça-feira, outubro 02, 2007

CAMINHO DE SANTIAGO TRAIL AVENTURA- PARTE IV


Foto: Confraria Trotamontes

Corremos de início em pelotão, mas depressa nos dividimos em pequenos grupos conforme a “condição atlética” de cada um e os objectivos previamente traçados. “Sigam as setas amarelas” tinha-nos dito na palestra o José Moutinho, víamo-las à esquerda à direita, numa ponte, numa casa, apontando para a travessia de um regato para a subida de um monte para descida a um vale mergulhado ainda na mansidão da uma névoa matinal. De tempos em tempos lá aparecia um “cruzeiro” que nos mantinha a “crença” de que estávamos no “bom caminho”, ou seja de estarmos “dentro” do percurso. Quando na Serra da Labruja começou a parte mais difícil do trajecto eu tirei os “batons” de caminhada da mochila e parei de correr para começar uma marcha acelerada, o grupo que até ia me acompanhava prosseguiu e eu fiquei sozinho naquela vastidão agreste com o pensamento que ainda me faltariam cerca de 135km para chegar a Santiago, tinha por isso de me “poupar”.
Da serra para o vale, das pedras soltas, para os lameiros onde também corriam ribeiros, das quintas isoladas, para as aldeias e já a cidade de Valença altaneira se avistava a norte. Corro novamente e numa destas povoações que vou atravessando faço uma paragem numa padaria e “devoro” descontraidamente dois pastéis de nata e bebo um café, aproveitando também para alongar as pernas e as costas, estas já doridas pelo peso da mochila.
Depois deste insólito interregno para muitos dos companheiros mais competitivos do pelotão (o que riram quando lhes contei do meu “banquete”), continuo agora “satisfeito como um abade” até entrar na malha urbana de Valência e daí até ao local do fim desta etapa, o quartel dos Bombeiros Voluntários da cidade onde tive uma recepção fantástica dos "atletas peregrinos" já aí chegados. Tinha completado então já 34km dos (38 inicialmente previstos pela organização) “só” faltavam 120Km* até final. Seguiu-se um relaxante banho e um almoço feito pelas simpáticas voluntárias do “comezainas” membros assíduos do Grupo Desportivo 4 caminhos e reservou-se a “sobremesa” para a tarde: 36km entre Valença e Redondela já na Galiza (dos 28Km previstos).

* A distância das etapas nunca bateu certo. Fizeram-se as contas no final. Deixo esta apreciação para as “notas finais” desta aventura.

sexta-feira, setembro 21, 2007

CAMINHO DE SANTIAGO PARTE III






Da crónica jornalística já muitos devem ter conhecimento. Escuso-me de comentar os números, os tempos, os vencedores (se bem que sejamos todos aqueles que por ali estiveram de uma forma ou de outra apesar de uns chegarem primeiro que outros), o que tenho vontade de relatar são as sensações e vivências e estas começaram como já disse no dia anterior da partida com o meu carro cheio de aventureiros rumo a Ponte de Lima… “brava dança dos heróis”; “dos feitos a glória há-de perdurar”.

Chegados à Vila que teima não querer ser cidade preservando assim o epíteto da “Vila mais antiga de Portugal” e à qual também podemos juntar sem falta de rigor, “das mais bonitas de Portugal”, aproveitamos para desentorpecer as pernas e o estômago com um passeio à beira do Lima seguido de uma das famosas iguarias gastronómicas da vila: um arroz de sarabulho divinamente acompanhado de um vinho verde tinto digno de altar ( acho que por esses púlpitos se bebe “porto” de finíssima qualidade, perdoem-me o exagero mas o néctar era delicioso). Cansados da viagem e da batalha com uma travessa que alimentaria um regimento, instalamo-nos para pernoita naquele que seria o primeiro “quartel-general” da organização: a pousada da juventude de Ponte de Lima. Aí já noite adiantada, ouvimos o primeiro “briefing” de apresentação do evento e recebemos os dorsais que transportaríamos durante os três dias que se seguiriam. Esta reunião deixou perceber pelos rostos e palavras de todos os candidatos a “atletas peregrinos” a ansiedade traduzida em expectativa com o que se iria passar dali a horas, mais propriamente no largo principal junto à ponte romana de 12 arcos que atravessa o rio Lima para norte. Era portanto nessa direcção que todos queríamos correr no dia seguinte e por consequência daquilo que parecia uma espera interminável para a maioria, foi difícil “pegar no sono” naquela noite, eu incluído.

Ao amanhecer a azafama e a boa disposição era enorme. Eu, atrasado como sempre, engulo apressadamente o madrugador pequeno-almoço, ponho a mochila com água, líquidos e outros abastecimentos às costas e faço um aquecimento digno de quem vai correr 10 quilómetros e não 148 em direcção ao referido largo. Para trás ficou a restante bagagem que seria “deslocada” pela organização etapa após etapa.

“Bons dias a todos” e nova palestra com o organizador descrevendo-nos a etapa que teríamos pela frente. Seria até Valença com a distância prevista de 38km, teria alguma montanha e trilhos difíceis atravessados por lameiros de pedras soltas e alguns riachos. Recomendava-se portanto cuidados redobrados na prevenção de acidentes e gestão do esforço.

E assim foi, com a Primavera a “explodir” num Minho adornado pelo efeitos multicolores das flores, profusão de cheiros e musicalidade dos “chilreares” que começou a I edição dos “Caminhos de Santiago Trail Aventura”, ou seja, num momento de rara beleza experimentado pelos amantes das corridas em natureza… eu estava lá (!) …” sagras a vida quando guerreias, à luz macia das luas cheias”




(continua)

segunda-feira, setembro 17, 2007

CAMINHO DE SANTIAGO TRAIL AVENTURA PARTE II



Os Caminhos de Santiago portugueses foram e são percorridos por milhares de pessoas. Muitas por convicções místicas, outras pelo prazer de descobrir um itinerário rico em história e cultura estreitado pelos múltiplos aspectos comuns entre as regiões do Minho e Galiza, mas todas irmanadas pela convicção de que os “caminhos” serão certamente uma experiência de conhecimento pessoal único nas suas vidas.
O percurso partir de Barcelos encontra-se melhor preservado e bem sinalizado. No entanto recuperando todas as vias ancestrais de peregrinação a Santiago, podemos começá-lo de muitos pontos do país (de Sagres por exemplo). Nós, baptizados de “atletas peregrinos” partiríamos de Ponte de Lima para uma aventura prevista de 148km (segundo os mapas oficiais do caminho).
Na véspera durante os preparativos para a partida, recordei as palavras do meu irmão António, um aventureiro “veterano” nestes caminhos (fez o chamado “Caminho Francês” em BTT por duas vezes), ao recomendar-me que devo cumprimentar todos aqueles com quem me cruzarei ao longo do percurso com as palavras “bom caminho” ( sobretudo em castelhano). Esta é uma espécie de “saudação ritual” que nos “caminhos” consolida as convicções de todos os que o percorrem. Ao longo do caminho iria desejá-lo inúmeras vezes, fui retribuído noutras tantas, sentindo que isso reforçava o meu objectivo: chegar a Santiago de Compostela a correr.



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sexta-feira, setembro 07, 2007

CAMINHO DE SANTIAGO TRAIL AVENTURA I PARTE


Ao entrar a correr na Praça de Obradoiro com o faixa que indicava a meta ao fundo desta a ouvir aplausos entusiastas de “atletas peregrinos” e os de um inesperado “público” constituído por aqueles que ali visitavam a monumentalidade da catedral de Santiago de Compostela, percebi que finalmente a aventura de 3 dias e mais de 150Km ( 154, mais exactamente) estava prestes a chegar ao fim. Não consigo ainda descrever as emoções que senti naquele instante tão especial, posso apenas compará-las às que senti em alguns momentos da minha vida: o dia do nascimento dos meus filhos, a minha primeira maratona ou o “finisher” no Ironman de Ibiza em 2001. O abraço caloroso do mentor do evento José Moutinho no instante em que transpus a linha da imaginária chegada, ajudou a emoldurar de um profundo sentido humano esta aventura designada muito originalmente por “ Caminho de Santiago Trail Aventura”.

Quando em Setembro de 2006 os “Caminhos de Santiago” foram anunciados num participado “fórum” sobre atletismo, não me mostrei muito entusiasmado isto porque estava a treinar pouco e tinha até aí falhado a minha participação na I edição do Ultra Trail Serra da Freita e principalmente no Raid Tróia Melides, prova para a qual tinha começado a treinar desde o início do ano. O motivo fora uma “arreliadora” e persistente lesão em ambos os joelhos designada por “condromalacia patelar” (um desgaste anormal na cartilagem dos joelhos) que pôs fim aos meus projectos desportivos da época e que parecia querer igualmente hipotecar os futuros. Apesar disso, alguns dos habituais camaradas de treino trataram de me “contagiar” com o seu entusiasmo, ajudando-me a recuperar algum do optimismo perdido até então, perguntando-me com frequência “então vens”? A resposta era difícil no momento, mas a “semente” fora lançada, esperava que germinasse. Para isso, continuei os tratamentos á lesão e fui acompanhando as novidades que iam surgindo acerca deste original evento bem como o aumento da lista de inscritos. No mês de Novembro, pensei, embora que timidamente, lançar-me à aventura de treinar para uma prova desta natureza. Há medida que os meses foram passando, os problemas físicos foram sendo debelados e os treinos longos puderam ser feitos em boa companhia e em lugares diversificados como a Arrábida, Sintra ou a Praia da Fonte da Telha. A Maratona Carlos Lopes 15 dias antes dos “caminhos”, transformou o que restava das dúvidas em certezas e esta transformaram-se em numa viagem na véspera para o alto Minho numa bela manhã de Primavera ao som da canção dos “Heróis do Mar” tocada no rádio do carro: “dos fracos não reza a história”, ia fazer a minha primeira ultra maratona.*
* Artigo publicado na Revista Atletismo de Junho

sábado, setembro 01, 2007

Caminhos de Santiago 2007 - Apresentação

O REGRESSO



Depois de cinco meses de ausência eis-me de regresso às actividades bloguisticas.
No dia 18 de Abril fiquei pelo prólogo desta aventura, nas próximas mensagens o relato completo daquilo que foi o "I Caminho de Santiago Trail Aventura".
Obrigado a todos aqueles que apesar da falta de "trilhos" contribuiram para mover o counter deste blog.
Até já

quarta-feira, abril 18, 2007

O PRÓLOGO DE SANTIAGO



Foto AMA MAGAZINE

Gerir os diferentes “tempos” que temos na vida não é tarefa fácil. Escrever aqui no blog em alguns períodos é deixar muitas outras coisas igualmente importantes por fazer. A minha ausência neste espaço explica a necessidade de estabelecer algumas prioridades na gestão desse “tempo”. Agradeço a todos os que, mesmo sem terem o “alimento” das histórias que aqui coloco, souberam deixar comentários de amizade e incentivo. Prometo estar “presente” mais vezes.

Muitas “águas correram debaixo das pontes” depois de eu ter aqui escrito pela última vez. Falemos daquelas que ainda levam intacta a esperança de começar dia 28 deste mês uma das aventuras de corrida mais originais até agora organizadas em Portugal: o “Caminho de Santiago Trail Aventura”.
Como puderam ter acompanhado ao longo de 5 meses aqui e no meu anterior blog o “Homem da Maratona”, a minha preparação para esta prova vai na 23ª semana. Recordo agora que se está a aproximar a data do seu início, os momentos mais marcantes desta preparação ao qual dei o nome de “Prólogo de Santiago”. Dividirei estas histórias por cinco, correspondem ao número de meses de preparação para a aventura. Voltarei desta forma oferecer o “alimento” que muitos desejam quando me visitam: a leitura da história singular de uma experiência de vida, visão do mundo e amor pela aventura de um atleta do pelotão, isso, a minha!
Começo este prólogo quase por um dos seus episódios finais, a minha participação na Gold Marathon Carlos Lopes realizada no passado domingo em Lisboa. Esta foi uma prova para a qual não me preparei, mas estava preparado. Não preparado porque nunca manifestei a intenção de estar presente, não fosse um convite de última hora. Preparado porque os treinos dos últimos tempos deram-me o suficiente “background” para enfrentar qualquer prova de distância longa.
A prova correu-me bem apesar das já habituais vicissitudes da sua organização. Corri em boa companhia, revi amigos e tive o prazer de completar uma Maratona depois do “desastre de Badajoz” em Janeiro. Desde 2003 que não completava uma prova desta distância, foram quase três anos de sucessivas lesões a mais próxima a que no ano passado a um mês do Raid Melides Tróia me impediu de vencer esta aparente malapata. Foi agora, finalmente! Como disse, esta maratona apesar de não conseguir afirmar-se como uma grande prova de Maratona, não deixa de ser realizada num excelente percurso. Percurso este que venci em 3h48m em ritmo de treino não fosse pesarem-me as pernas para Santiago caso metesse o “pé no acelerador”. À chegada à meta, a minha filhota, fã nº 1 de um Pai que muitas vezes permuta a sua companhia por uns treinos (necessários) ao de fim-de-semana, gritava entusiasmada á minha chegada. Peguei nela e juntos ultrapassamos o pórtico, linha que demarcava os 42.195mts vencidos. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Espero que juntos possamos cortar muitas metas pela vida fora!

Até breve.

domingo, março 04, 2007

ARRÁBIDA - TRAÇAR PERCURSOS (continuação)


A norte a "margem sul".

A Primavera já seduz na Serra

A subida no seu início junto à "Secil" tem aproximadamente 8km até ao topo. Será esta distância ida e volta que me proponho agora fazer no "treino do dia" ( mais o circuito da lama). Assim, à medida que vou subindo os horizontes alargam-se, já vejo Tróia, costa da Galé, Setúbal e um imenso oceano que aos meus olhos parece não ter fim. Mais acima depois do quartel, debruço-me sobre uma "varanda" do que deve ter sido um antigo posto avançado de observação militar costeira e tiro ai as primeiras fotos em automático comigo em fundo nesta paisagem fantástica. Continuo, reparo que o incêndio de há dois anos destruiu bastante a zona, talvez de forma irreparável. Mas a natureza resiste e por todo lado flores amarelas anunciam a Primavera não muito distante. Chego ao ponto em que acaba a subida junto ás antenas, mais à frente o miradouro sobre toda a península de Setúbal, a ocidente o Meco, Lagoa de Albufeira, Costa da Caparica, a norte o Tejo e a suburbana "margem sul", perto, Azeitão, mais para oriente Palmela e além desta, as vastas planícies de parte daquilo que "além Tejo" já se chama "riba Tejo". Olho para o "Formosinho" coberto de uma nuvem que vai descendo na minha direcção e que rapidamente parece estar prestes a alcançar-me. Para evitar sentir mais frio do que já venho a sentir desde que estou ali no "tecto" da serra, arranco para um "downhill" desenfreado de distância igual à subida no qual pareço ter assas. No final do treino ainda tempo para explorar mais uns caminhos junto ao Vale da Rasca e a desilusão de encontrar parte destes vedados com cercas que indicam propriedades particulares.
Total aproximado de 20km para 2h45 de treino ( nunca mais recebo como prenda um GPS)

Agradeço ainda aos leitores do Trilhos Míticos as palavras de incentivo, fica aqui a promessa que para breve responderei ás questões que o Lucas e o André aqui me colocaram.

Desejo de muitas aventuras.

quinta-feira, março 01, 2007

ARRÁBIDA - TRAÇAR PERCURSOS

No horizonte muitos "horizontes"

Agora, subir, subir, até a estrada ficar plana, sinal que cheguei ao topo.


Em casa hoje, decidi que o meu treino diário seria algures na Arrábida. Assim fiz-me à estrada e durante algum tempo estive indeciso na direcção a tomar. Quinta do Anjo? Palmela? Azeitão? Decidi, Vale da Rasca! A minha intenção era traçar possíveis percursos de treino, quer para o grupo que vai a Santiago, quer para a malta do fórum " O Mundo da Corrida" que tem prometido um treino/convívio para estas bandas. Escolhi o Vale da Rasca por me oferecer duas alternativas, a primeira a possibilidade de traçar um percurso em estrada a segunda fazer o mesmo mas nos trilhos que atravessam aquela zona até comenda e caminhos paralelo à ribeira que aí desagua.
Comecei pela segunda alternativa e depressa percebi que os caminhos, apesar dos ténis "todo o terreno" que tinha calçados, estavam intransitáveis. É que na serra a maioria do seu solo é de barro, ou greda, que quando molhado se transforma numa lama que se cola aos sapatos de forma persistente formando uma dupla sola que impede qualquer indómito aventureiro de progredir. Foi o que me aconteceu. Retorno, decido ir no sentido contrário ao inicialmente planeado. Atravesso uma ribeira aproveitando para lavar os ténis e tomo um caminho que entronca com a estrada para o alto da serra (...) continua.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

RUMO AO TRILHO MÍTICO, SEMANA Nº 15 - SINTRA-CABO DA ROCA-SINTRA


A subir até à Peninha


Com o ARR junto à Azóia já no regresso

Fotos O Mundo da Corrida Fórum

Trilho -fig., trilha; caminho; vereda; direcção; piso; costume.

Mítico - adj., relativo aos mitos ou que é da natureza deles; fabuloso.

O "Trilhos Míticos" é uma parte do "Homem da Maratona" no sentido em que este também percorre as minhas paixões pela escrita, corrida em geral, triatlo e aventura. No entanto, O "Trilhos Míticos" é um outro lado dessa paixão, um lado mais específico que tem vindo a crescer em intensidade e espero que em participação: as corridas em natureza.
O "Trilhos Míticos" é uma referência escrita a todas as ideias e a todos aqueles que contribuem ou venham a contribuir para a criação de formas mais originais de prática de corrida.
O "Trilhos Míticos" é ainda uma homenagem à participação no evento que decorrerá no mítico caminho de peregrinação a Santiago pelo autor e seus companheiros de corrida em Abril de 2007 com o nome de Trail Caminhos de Santiago Aventura e um elogio à criatividade dos seus organizadores.

SINTRA-CABO DA ROCA-SINTRA

Todos os caminhos rumavam a Sintra neste Domingo. Há muito que cerca de 24 atletas combinavam no fórum “ O Mundo da Corrida” um treino Sintra – Cabo da Roca – Sintra num percurso de distância total de 34km. Cumpriu-se o combinado para a maioria, compareceram cerca de 20 para correr e um dos seus maiores paladinos para dar assistência e fazer as fotografias do encontro. Eu a Chantal, o Jaime e o Adílio fomos os ilustres representantes do grupo dos Machadarunners que se deslocou a Sintra, todos em preparação para o Trail de Santiago.
Este foi portanto mais um treino longo ( o 7º com mais de 30km em 2 meses e ½ ) feito num tempo de 3h40m ( para mim) debaixo de uma chuva miudinha num cenário fantástico, desde as entranhas densas da romântica Serra de Sintra até ao inóspito cenário do Cabo da Roca num trajecto impregnado de beleza vibrante para os sentidos.
Final com um lanche de doçaria regional na famosa pastelaria “Piriquita” em Sintra e a promessa que a próxima corrida/treino convívio será uma organização da Tribo da Machada no mágnifico cenário da Arrábida. Para já em perspectiva algumas sessões de treino na serra para traçar um percurso que sirva para “sempre recordar” a todos os que nele venham a participar.

Semana de 18 a 25

18 – 20km Cascais
19 – Natação (1500mts)
20 – Des.
21 – 12Km cc ( 60m)
22 – Des.
23 – Séries 1/1; 2/2; 3/3; 4/4; 3/3…
24 – BTT ( 20km)
25 – 34Km cc Serra de Sintra ( 3h40m)

À VOLTA DO SANTIS ( PARTE I)

Como o planeado saí de Konstanz para passar uns dias com um amigo nos arredores do cantão suiço de Sankt Gallen. Não tinha...