quinta-feira, outubro 25, 2007

Maratona do Porto - a melhor maratona portuguesa




Fotografias gentilmente cedidas pela AMMA ( Atletismo Magazine Modalidades Amadoras)

Maratona do Porto 2007, a melhor maratona portuguesa.

Num ano especialmente atribulado posso dizer que o balanço desportivo até aqui nem é nada mau. Se considerar que apesar das agendas profissional, escolar e familiar estarem muito preenchidas (mais recentemente um pouco menos) este ano foi até aqui ( e portanto será definitivamente com a vantagem de poder torná-lo ainda mais ) o ano em que mais provas de distância igual ou superior à maratona fiz. Posso afirmar então que este será um o ano mais “maratonístico” de 13 anos de prática desportiva ininterrupta ( com os seus momentos de maior ou menor motivação e/ou disponibilidade)! Apesar dos “altos e baixos” o ano começou com uma tentativa desastrada de fazer a maratona de Badajoz que tinha como principal objectivo servir de preparação para a ultramaratona Caminhos de Santiago Trail Aventura em Abril. Efectivamente um mau planeamento do treino, indisposição física e um dia gélido de Janeiro, acabaram com as minhas aspirações logo aos 11km de prova. Não desisti da intenção e em Abril, um tanto ao quanto inesperadamente e um pouco a contra gosto (apesar de ser a minha primeira experiência na prova os relatos da qualidade organizativa não eram animadores o que de facto tive o (des) prazer de confirmar) corri em Lisboa a maratona Carlos Lopes. Esta correu-me bem, apesar de a ter feito em ritmo de treino (dentro de duas semanas esperava-me um “empeno monumental” de 150km) e… até gostei do percurso! Mas o meu maior prazer foi mesmo ter cortado a meta com a minha filha de 3 anos, a minha principal fã e uma das pessoas que mais me inspira e dá vontade de continuar nestas “andanças” (esta experiência paterna fará parte da sua “herança”).
Abril a fechar com a primeira ultramaratona da minha “carreira”, foi um momento alto que tive a oportunidade de relatar na Revista Atletismo ( se bem que com o constrangimento de ter sido escrito num período bastante atribulado das tais “agendas” que falei de início) e agora em versão “corrigida” nos Trilhos Míticos. Julho a começar com o Ultra Trail Serra da Freita, 50km numa paisagem fabulosa, um “estoiro” aos 30km e algumas críticas que oportunamente farei à sua organização, completavam pensei eu o meu calendário de distâncias longas de 2007, isto porque efectivamente a indisponibilidade para treinar era quase total então.
Como nem só de agendas vive o homem, pois as rotinas levam-nos depressa à “mania” de uma absurda ritualização do quotidiano (uma forma insuspeita mas perigosa de baralhar os neurónios e candidatarmo-nos a servir de tubos de ensaio para a indústria farmacêutica dos tranquilizantes e afins), em Setembro decido avançar para a preparação da Maratona do Porto a realizar no mês seguinte. Preparar uma maratona requer disciplina, treino, persistência, uma alimentação correcta e… pelo menos três meses de treino para atletas habituados à distância. Reunia a última condição mas não as restantes. Ainda assim, motivado pelas boas impressões transmitidas por aqueles que já tinham nela participado em edições anteriores e pelo necessidade de recuperar a sanidade mental ( digo eu) começo a treinar para a Maratona do Porto 2007 na sua 4ª edição. Com quatro sessões longas de corrida (das 2.30 até 3.30), duas de caminhada (4 e 6 horas respectivamente) alguns treinos de ciclismo e natação, para além de outras sessões de corrida que não ultrapassaram a 1h30, lá vou eu numa bela manhã de Outono a caminho da Maratona de Porto.
Modesta mas bem organizada feira da maratona e respectiva “festa da massa”, foram de entrada as (boas) primeiras impressões que tive desta prova. Gente conhecida, simpatia e demonstrações de amizade enquadrados num ambiente com música ao vivo, foram um dos aperitivos para o “dia seguinte”. Outro foi uma caminhada de 4km de ida e volta ao longo da bonita Av. Da Boavista com as suas casas de estilos arquitectónicos “ricos” quer pelo bom gosto, quer pelo dinheiro dos seus proprietários, como eu estava a gostar do Porto…

A habitual insónia fruto da ansiedade da véspera de prova, não existiu. Motivo: cansaço da viagem, caminhada nocturna e noite da antevéspera em “branco”. Desta forma acordei repousado e tranquilo. Não abusei das iguarias hoteleiras ao pequeno almoço, cheguei na hora e sem “stress”, encontrei um ambiente digno de uma festa desportiva, e, aqui vou eu de peito ao vento para a minha 5ª maratona e uma promessa pública de fazer um tempo aproximado das 3h30. De facto tive a sorte e a esperteza de me ter posicionado bem e estar acompanhado de corredores com um ritmo idêntico ao meu. Assim os primeiros quilómetros de uma bonita manhã com temperatura amena numa varanda privilegiada para a foz e rio Douro, foram bem “consumidos” a um ritmo de 4m50 por quilómetro.
A animação em torno da prova era, na minha opinião, a melhor que alguma vez tinha assistido em provas de maratona em Portugal ( nós sabemos o quanto habitualmente são pobres), os abastecimentos até aos 21km de prova sem mácula e a companhia (agora mais reduzida) excelente! As condições para fazer uma boa prova estavam reunidas. As “dores adaptativas” começaram por volta do quilómetro 26, nada de anormal portanto, passando para as chamadas de “sofrimento” a partir do quilómetro 38, o que também não é nada de estranho nestas distâncias. Antes disso, “no melhor pano caí a nódoa” e a organização “faltou” com o abastecimento de isótonico entre os quilómetros 26 e 35, mas até aqui, nada que comprometesse seriamente o seu bom trabalho. O meu grupo já se encontrava reduzido a três regulares elementos, ou seja aqueles que não tinham “chocado contra o muro dos 30km”. Eu estou como no anúncio da “red bull” ( embora não o tenha bebido), ou seja a “voar”, e até danço à passagem por uma banda de música brasileira que animava os já muitos desanimados atletas da maratona e ½ maratona entretanto “misturados”. Ao quilómetro 36 depois de um abastecimento de sólidos fico então sozinho (desculpem a traição companheiros), mantenho um ritmo regular, embora com a (já) consciência de que não baixaria do objectivo proposto, sinto pela primeira vez calor e imagino que já devo ter a tal “máscara de esforço” que nos dá (maratonistas) umas originais expressões para os fotógrafos e espectadores da prova e é desta forma corto a meta com 3h32. Nada mau, pois o retorno tinha mais subidas, o (muito) empedrado da prova torna-se numa espécie de “monte de pedras desordenadas” e o abastecimento tinha sido mais “deficiente” que na 1ª parte da prova (e é na 2ª que mais precisamos que seja o contrário). A juntar a estas condições externas as internas: pouca preparação específica e peso a mais. Estava portanto satisfeito com o resultado produzido, tinha participado no que já podia afirmar ser a melhor maratona em Portugal e uma das melhores da minha vida. Somando estes aspectos á boa companhia que desfrutei antes, durante e depois da prova e a uma gastronomia que nos candidata ao respectivo “pecado mortal” , passei dois dias inesquecíveis na cidade do Porto. Para o ano contem comigo para a 5ª edição da Maratona do Porto, tudo farei para estar presente.

terça-feira, outubro 16, 2007

CAMINHO DE SANTIAGO TRAIL PARTE V



Foto: Trotamontes

Quanto os “atletas peregrinos” partiram para a etapa da tarde, a grande maioria tinha a confiança em alta. Afinal tínhamos completado parte do percurso, seguia-se a última e derradeira etapa do dia com uns (mal) previstos 28 Km (medidos pelo Road book oficial do caminho). Esta distância não seria novidade para a maioria dos atletas já habituados a aventuras do género, contudo a temperatura havia subido, o caminho tinha mais “alcatrão”, exigia-se roupa mais fresca e maior consumo de líquidos (facto que não foi muito acautelado por alguns). Na partida a já habitual boa disposição e mais uma “fragmentação” do pelotão, desta feita ainda dentro da cidade de Valência, seguiu-se a travessia do Rio Minho pela antiga ponte de ferro e a entrada na zona histórica da cidade Tui, finalmente estávamos em Espanha!
Era aqui que se iria desenrolar a maior parte da prova. Há semelhança do que acontecera de manhã, eu segui com um chamado “segundo grupo”, inicialmente o mais numeroso, mas que também se foi dividindo pouco a pouco ainda dentro das ruelas da referida cidade galega em grupos menores de dois, no máximo três a quatro atletas.
Após as duas cidades, a paisagem nos primeiros quilómetros continuou a ser campestre e ricamente “decorada” com motivos arquitectónicos ligados caminho. Contudo isso depressa acabou à medida que nos aproximávamos da cidade industrializada de Põrrino onde a travessia das estradas em alcatrão começou a ser cada vez mais frequente. Aqui cometo o meu primeiro erro, na tentativa me juntar a outros dois atletas mais à frente, eu e o companheiro que estava comigo no momento, acabamos por prestar pouca atenção à sinalética que indicava o caminho e enganámo-nos no percurso. Afinal, um erro grosseiro também cometido por aqueles que “perseguíamos” . Como resultado disto vimo-nos os quatro inesperada e perigosamente “dentro” de uma auto-estrada que nos levaria a Santiago… mas só de carro.
Não sei se foi este facto que nos vez correr mais uns quilómetros, se o calor que apertava e como consequência aumentava as necessidades de abastecimento, se a informação de que a etapa afinal era mais comprida que o previsto, a minha confiança e a dos meus companheiros foi afectada de forma muito particular traduzida pela forma como se encararam as etapas que se seguiriam. Apesar disso e depois de sucessivas “trocas” de parceiro ( o primeiro "rebentou" aos 25km), cheguei ao final da etapa na cidade de Redondela na companhia do veterano e pioneiro das “Voltas ao Minho” o José Ribeiro (que lamentavelmente no dia a seguir teve de desistir por lesão num pé), que com a sua experiência ajudou-me a superar uma das etapas mais duras destes caminhos, curiosamente aquela em que fiz a melhor média por quilómetro (3:58:55 - 6:38 m/km, isto se calcularmos "apenas" 36km). O sucesso de ter chegado ao fim da etapa a correr teria sido certamente do andamento mais “económico” da manhã e que tinha permitido a poupança de forças para a tarde. Estava pois feliz pela estratégia.
A dureza da etapa tinha consumido o stock de energia do dia. Estava desgastado muscular e articularmente à semelhança da maioria dos companheiros e isso estava patente nos rostos e no “andar novo” ao estilo do de “Charlie Chaplin” (espero que consigam ver a caricatura) que todos ostentavam. Uma das causas seria o inegável facto de que o inesperado aumento da distância de 28 para 36 km (somando os que alguns fizeram a mais) fizera “mossa”, outro seria a “contabilidade” da prova que nesta altura já somava uns “bonitos” 70km.
Entregues aos cuidados das “comezainas” e do massagista Valdemar Damião, o grupo recuperou a boa disposição e a certeza de chegar a Santiago, mas surgiram as primeiras baixas no grupo dois atletas tinham desistido de completar o “Trail Caminho de Santiago Aventura”. Agora restava-nos descansar para o "dia seguinte".

terça-feira, outubro 02, 2007

CAMINHO DE SANTIAGO TRAIL AVENTURA- PARTE IV


Foto: Confraria Trotamontes

Corremos de início em pelotão, mas depressa nos dividimos em pequenos grupos conforme a “condição atlética” de cada um e os objectivos previamente traçados. “Sigam as setas amarelas” tinha-nos dito na palestra o José Moutinho, víamo-las à esquerda à direita, numa ponte, numa casa, apontando para a travessia de um regato para a subida de um monte para descida a um vale mergulhado ainda na mansidão da uma névoa matinal. De tempos em tempos lá aparecia um “cruzeiro” que nos mantinha a “crença” de que estávamos no “bom caminho”, ou seja de estarmos “dentro” do percurso. Quando na Serra da Labruja começou a parte mais difícil do trajecto eu tirei os “batons” de caminhada da mochila e parei de correr para começar uma marcha acelerada, o grupo que até ia me acompanhava prosseguiu e eu fiquei sozinho naquela vastidão agreste com o pensamento que ainda me faltariam cerca de 135km para chegar a Santiago, tinha por isso de me “poupar”.
Da serra para o vale, das pedras soltas, para os lameiros onde também corriam ribeiros, das quintas isoladas, para as aldeias e já a cidade de Valença altaneira se avistava a norte. Corro novamente e numa destas povoações que vou atravessando faço uma paragem numa padaria e “devoro” descontraidamente dois pastéis de nata e bebo um café, aproveitando também para alongar as pernas e as costas, estas já doridas pelo peso da mochila.
Depois deste insólito interregno para muitos dos companheiros mais competitivos do pelotão (o que riram quando lhes contei do meu “banquete”), continuo agora “satisfeito como um abade” até entrar na malha urbana de Valência e daí até ao local do fim desta etapa, o quartel dos Bombeiros Voluntários da cidade onde tive uma recepção fantástica dos "atletas peregrinos" já aí chegados. Tinha completado então já 34km dos (38 inicialmente previstos pela organização) “só” faltavam 120Km* até final. Seguiu-se um relaxante banho e um almoço feito pelas simpáticas voluntárias do “comezainas” membros assíduos do Grupo Desportivo 4 caminhos e reservou-se a “sobremesa” para a tarde: 36km entre Valença e Redondela já na Galiza (dos 28Km previstos).

* A distância das etapas nunca bateu certo. Fizeram-se as contas no final. Deixo esta apreciação para as “notas finais” desta aventura.

À VOLTA DO SANTIS ( PARTE I)

Como o planeado saí de Konstanz para passar uns dias com um amigo nos arredores do cantão suiço de Sankt Gallen. Não tinha...