quarta-feira, setembro 30, 2009


Travessia do túnel até ao CP3


Do CP 2 ao CP 3 ( 34km) subia-se outra vez dos 1000 até aos 1200mts para depois descer 300mts mergulhando novamente na floresta de Laurissilva. Aqui atravesso os primeiros túneis que trazem as levadas e permitem progredir naquele relevo acidentado, são fantásticos! Por serem compridos, alguns até perto de 1km, tenho de acender o frontal e lá vou eu a exercitar a imaginação com outras épocas, outros mundos, outras realidades nomeadamente o labor duro de quem escavou aquelas passagens, terão sido escravos? Colonizadores da ilha na ânsia de domar uma paisagem extremamente agreste? Trabalhadores? De onde? Escavaram com picaretas? Explosivos? Enfim, os meus pensamentos vagueiam entre os livros de história e os do Tim-Tim.
Chego então ao CP3 e espero novamente pelo resto da equipa. Até então sabia-me bem progredir sozinho,tirava fotografias, fazia pequenos filmes e sobretudo insuflava a beleza da paisagem. O resto da malta também não estava nada atrasada, ainda eu mordiscava o primeiro pedaço de pão e eis que chegam e logo com vontade de arrancar para o CP4 na Bica da Cana (48km). Por lapso na mensagem anterior, referi a zona entre a Fonte do Bispo e o Rabaçal como a do "Paúl da Serra", mas não, este começa após a curta e desnivelada subida de aproximadamente 2km do Rabaçal até à Bica da Cana.




CP3 a "parede" até ao Paúl da Serra

Como disse sobe-se. A partir do CP3 vamos dos 950mts até aos 1550mts da Bica da Cana numa paisagem mais inóspita de planalto montanhês, mas fresca, arejada e de vistas largas. Diria não ser tão deslumbrante como a anterior que para mim era mais ou menos uma novidade ( pelos pequenos e variados detalhes nunca vistos), mas era igualmente bela pois identifico sempre esta com o facto de me encontrar já a uns bons metros do nível do mar e assim poder admirar tudo em profundidade.
Do CP 4 ao CP5 da Encumeda (58km) passamos dos 1550 para os 1000 mas através duma paisagem inesquecível. Quedas de água, escadas que descem sem fim, túneis, levadas, verde, verde, verde. Foi dos trechos mais belos da "música" madeirense! As referidas escadas levavam-nos quase em espiral para o coração verde da Madeira. A espaços, quando a vegetação era mais aberta, via o que me rodeava e sentia estar numa espécie de "mundo perdido", remoto, ideia que se adensava pela neblina que cobria o vale e remetia para imagens só vistas em ecrã, em filmes da National Geografic sobre o Bornéu, a zona andina da Amazónia e outras zonas tropicais e equatoriais nas quais o verde, a água, os cheiros, o barulhos as aves, a neblina e os mistérios e o imprevisto excitam os sentidos como as 4 estações do Vivaldi!
Depois de uma crescente dor de pernas causada pelo efeito "descida íngreme em escadas e trilhos irregulares" e a impressão que as primeiras bolhas estavam a chegar, chegamos também à Encumeada CPnº4 aos 58km de prova, foi aqui que nos disseram que a prova só agora iria começar!


O "Mundo Perdido"

quinta-feira, setembro 24, 2009

A Partida - Entre a face norte e a sul da ilha


Briefing no observatório de Porto Moniz


Porto Moniz depois da partida e ao amanhecer

A partida deu-se às 7h00 na vila de Porto Moniz. Tínhamos pela frente 105km ( diria quase de certeza que foram mais) e um desnível acumulado de 3880 mts para vencer. Guardávamos na memória os relatos de alguns participantes na edição anterior e da dificuldade de alguns troços do percurso como também dos "humores" do clima em altitude. A manhã estava fresca mas não fria e o céu ameaçava chuva (que acabou por cair logo após a partida). Chegara a minha vez de atravessar a Madeira ao longo do seu paralelo!
O pelotão de imediato se alongou, seleccionando os mais afoitos que enfrentaram logo as primeiras subidas a correr e os mais cautelosos que as faziam a marchar. Eu estava nestes últimos, preferi dar logo uso aos meus bastões para que também pudessem "aquecer", iria utilizá-los na maioria do percurso porque "cautela e caldos de galinha"... sabia que tinha muitos quilómetros pela frente.
O primeiro café aberto e toca a "matar o bicho", fazem-me companhia os camaradas de vício e lá vamos nós outra vez na cauda do pelotão como na Freita o que não nos chateia nada pois começar a prova de "trás para a frente" começa a ser uma estratégia motivadora. Vamos ultrapassando os mais lentos, admirando a paisagem ao amanhecer, tirando fotografias, em suma, estamos mais em turismo desportivo que em competição, melhor assim para quem não planificou o desafio de forma mais "competitiva".
De Porto Moniz até ao 1º CP na Fonte do Bispo distavam 17km que subíamos praticamente do nível do mar até aos 1250mts. Se numa 1º fase o percurso cruzava estradas de alcatrão e caminhos regulares, passados poucos quilómetros entramos na 1º levada e tivemos o contacto com a paisagem luxuriante da floresta autóctone da face norte da ilha, a Laurissilva. Para quem não sabe, é uma flora que remonta até à cerca de 20milhões de anos, numa fase em que esta floresta de características subtropicais ocupava toda a bacia do mediterrâneo. Com as sucessivas alterações climáticas e movimentos tectónicos ( glaciações, avanço do deserto africano, formação definitiva do mar mediterrâneo) este tipo de espécies vegetais de uma época tão remota acabou por "sobreviver", com as naturais adaptações é certo, em apenas 3 regiões do planeta, Canárias, Madeira e Açores. A partir da visão desta massa verde já podem imaginar porque é que os primeiros descobridores lhe chamaram "Madeira". Um paraíso que felizmente é agora património mundial da humanidade para bem da conservação da biodiversidade e transmissão de riquezas às gerações futuras.
Do CP1 descíamos para o CP2 aos 26km e a 1000mts de altitude no chamado "Paúl da Serra", uma zona semidesértica de pastagens e muitas vacas indolentes. Daí avistava-se a "face sul" da ilha e o mar, um oceano azul a perder de vista, tapado apenas por algumas nuvens que abaixo de nós emprestavam mais beleza à paisagem, dir-se-ia que era como estar na Serra da Estrela com vistas de Arrábida...

Até já.

( Ainda não passei do CP 2 ;-)






A visão da face sul até ao mar



Face sul, serra e mar

quarta-feira, setembro 16, 2009

E o Clube de Montanha do Funchal criou o MIUT


Se Deus criou a mulher, a malta do Clube de Montanha do Funchal criou o MIUT. Mas se a analogia serve quando quero referir que ambos são belos, misteriosos, fanscinantes e desafiantes, não sei se servirá quando afirmo que são também duros de roer e não estão isentos de uns "defeitositos" ( aqui é que eu divido opiniões). Apesar disso, bendita maçã!
Pecado, pecado, foi eu ter partido para a Madeira para fazer 105km com 3880 de desnível acumulado sem treinos dignos de tamanho empreendimento pelos motivos que já carpi nas mensagens anteriores, mas pronto, com os pés nuns trambolhos, mau humor, vontade de comer um pequeno almoço inglês, a sonhar com uma cama de dossel ( epá gosto do efeito das cortinas) a tendinite a dormir há muito com brufenes, lá cheguei ao Machico depois de um "bailinho" de 25h e 48m ( estes para fazer os últimos 1500mts) por um dos cenários naturais mais espectaculares que já tive o prazer de conhecer, Oh god, I´m alive!!!
( Já volto)

quarta-feira, setembro 02, 2009

MIUT - Lisboa Funchal



Pico do Arreiro - o tecto da Ilha da Madeira

Será aqui aos 74km que segundo as previsões de tempo de prova estarei às 01h00 de dia 5 de Setembro ( a prova começa dia 4 às 8h).

A preparação não foi famosa, as dores de uma tendinite recém diagnosticada ( mas que anda por cá há 3meses) e as férias da família em Agosto não deixaram. A juntar a isto uma queda de bicicleta no domingo passado também quase comprometia o investimento ( bastava que onde a minha bicicleta ficou encaixada tivesse ficado eu), felizmente tudo não passou de queimaduras do alcatrão e roupa com buracos.
Apesar disto, considero-me um tipo de sorte, vou conhecer a pérola do Atlântico ainda por cima com uma travessia integral da ilha pelos seus pontos mais altos. Uma aventura que se correr bem ( chegar ao final no tempo limite de 25hrs) dará os pontos necessários para o UTMB 2010 e a quase garantia de estar presente no maior evento mundial de ultratrail, a ver vamos...

Comigo viajam o "núcleo duro" do CAB e da secção dos ultraempenos, a Esmeralda, Ângela e o António.

Até breve, agora vou fazer o chek (in) out ( of here).

Wish us luck!


À VOLTA DO SANTIS ( PARTE I)

Como o planeado saí de Konstanz para passar uns dias com um amigo nos arredores do cantão suiço de Sankt Gallen. Não tinha...