sexta-feira, setembro 21, 2007

CAMINHO DE SANTIAGO PARTE III






Da crónica jornalística já muitos devem ter conhecimento. Escuso-me de comentar os números, os tempos, os vencedores (se bem que sejamos todos aqueles que por ali estiveram de uma forma ou de outra apesar de uns chegarem primeiro que outros), o que tenho vontade de relatar são as sensações e vivências e estas começaram como já disse no dia anterior da partida com o meu carro cheio de aventureiros rumo a Ponte de Lima… “brava dança dos heróis”; “dos feitos a glória há-de perdurar”.

Chegados à Vila que teima não querer ser cidade preservando assim o epíteto da “Vila mais antiga de Portugal” e à qual também podemos juntar sem falta de rigor, “das mais bonitas de Portugal”, aproveitamos para desentorpecer as pernas e o estômago com um passeio à beira do Lima seguido de uma das famosas iguarias gastronómicas da vila: um arroz de sarabulho divinamente acompanhado de um vinho verde tinto digno de altar ( acho que por esses púlpitos se bebe “porto” de finíssima qualidade, perdoem-me o exagero mas o néctar era delicioso). Cansados da viagem e da batalha com uma travessa que alimentaria um regimento, instalamo-nos para pernoita naquele que seria o primeiro “quartel-general” da organização: a pousada da juventude de Ponte de Lima. Aí já noite adiantada, ouvimos o primeiro “briefing” de apresentação do evento e recebemos os dorsais que transportaríamos durante os três dias que se seguiriam. Esta reunião deixou perceber pelos rostos e palavras de todos os candidatos a “atletas peregrinos” a ansiedade traduzida em expectativa com o que se iria passar dali a horas, mais propriamente no largo principal junto à ponte romana de 12 arcos que atravessa o rio Lima para norte. Era portanto nessa direcção que todos queríamos correr no dia seguinte e por consequência daquilo que parecia uma espera interminável para a maioria, foi difícil “pegar no sono” naquela noite, eu incluído.

Ao amanhecer a azafama e a boa disposição era enorme. Eu, atrasado como sempre, engulo apressadamente o madrugador pequeno-almoço, ponho a mochila com água, líquidos e outros abastecimentos às costas e faço um aquecimento digno de quem vai correr 10 quilómetros e não 148 em direcção ao referido largo. Para trás ficou a restante bagagem que seria “deslocada” pela organização etapa após etapa.

“Bons dias a todos” e nova palestra com o organizador descrevendo-nos a etapa que teríamos pela frente. Seria até Valença com a distância prevista de 38km, teria alguma montanha e trilhos difíceis atravessados por lameiros de pedras soltas e alguns riachos. Recomendava-se portanto cuidados redobrados na prevenção de acidentes e gestão do esforço.

E assim foi, com a Primavera a “explodir” num Minho adornado pelo efeitos multicolores das flores, profusão de cheiros e musicalidade dos “chilreares” que começou a I edição dos “Caminhos de Santiago Trail Aventura”, ou seja, num momento de rara beleza experimentado pelos amantes das corridas em natureza… eu estava lá (!) …” sagras a vida quando guerreias, à luz macia das luas cheias”




(continua)

segunda-feira, setembro 17, 2007

CAMINHO DE SANTIAGO TRAIL AVENTURA PARTE II



Os Caminhos de Santiago portugueses foram e são percorridos por milhares de pessoas. Muitas por convicções místicas, outras pelo prazer de descobrir um itinerário rico em história e cultura estreitado pelos múltiplos aspectos comuns entre as regiões do Minho e Galiza, mas todas irmanadas pela convicção de que os “caminhos” serão certamente uma experiência de conhecimento pessoal único nas suas vidas.
O percurso partir de Barcelos encontra-se melhor preservado e bem sinalizado. No entanto recuperando todas as vias ancestrais de peregrinação a Santiago, podemos começá-lo de muitos pontos do país (de Sagres por exemplo). Nós, baptizados de “atletas peregrinos” partiríamos de Ponte de Lima para uma aventura prevista de 148km (segundo os mapas oficiais do caminho).
Na véspera durante os preparativos para a partida, recordei as palavras do meu irmão António, um aventureiro “veterano” nestes caminhos (fez o chamado “Caminho Francês” em BTT por duas vezes), ao recomendar-me que devo cumprimentar todos aqueles com quem me cruzarei ao longo do percurso com as palavras “bom caminho” ( sobretudo em castelhano). Esta é uma espécie de “saudação ritual” que nos “caminhos” consolida as convicções de todos os que o percorrem. Ao longo do caminho iria desejá-lo inúmeras vezes, fui retribuído noutras tantas, sentindo que isso reforçava o meu objectivo: chegar a Santiago de Compostela a correr.



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sexta-feira, setembro 07, 2007

CAMINHO DE SANTIAGO TRAIL AVENTURA I PARTE


Ao entrar a correr na Praça de Obradoiro com o faixa que indicava a meta ao fundo desta a ouvir aplausos entusiastas de “atletas peregrinos” e os de um inesperado “público” constituído por aqueles que ali visitavam a monumentalidade da catedral de Santiago de Compostela, percebi que finalmente a aventura de 3 dias e mais de 150Km ( 154, mais exactamente) estava prestes a chegar ao fim. Não consigo ainda descrever as emoções que senti naquele instante tão especial, posso apenas compará-las às que senti em alguns momentos da minha vida: o dia do nascimento dos meus filhos, a minha primeira maratona ou o “finisher” no Ironman de Ibiza em 2001. O abraço caloroso do mentor do evento José Moutinho no instante em que transpus a linha da imaginária chegada, ajudou a emoldurar de um profundo sentido humano esta aventura designada muito originalmente por “ Caminho de Santiago Trail Aventura”.

Quando em Setembro de 2006 os “Caminhos de Santiago” foram anunciados num participado “fórum” sobre atletismo, não me mostrei muito entusiasmado isto porque estava a treinar pouco e tinha até aí falhado a minha participação na I edição do Ultra Trail Serra da Freita e principalmente no Raid Tróia Melides, prova para a qual tinha começado a treinar desde o início do ano. O motivo fora uma “arreliadora” e persistente lesão em ambos os joelhos designada por “condromalacia patelar” (um desgaste anormal na cartilagem dos joelhos) que pôs fim aos meus projectos desportivos da época e que parecia querer igualmente hipotecar os futuros. Apesar disso, alguns dos habituais camaradas de treino trataram de me “contagiar” com o seu entusiasmo, ajudando-me a recuperar algum do optimismo perdido até então, perguntando-me com frequência “então vens”? A resposta era difícil no momento, mas a “semente” fora lançada, esperava que germinasse. Para isso, continuei os tratamentos á lesão e fui acompanhando as novidades que iam surgindo acerca deste original evento bem como o aumento da lista de inscritos. No mês de Novembro, pensei, embora que timidamente, lançar-me à aventura de treinar para uma prova desta natureza. Há medida que os meses foram passando, os problemas físicos foram sendo debelados e os treinos longos puderam ser feitos em boa companhia e em lugares diversificados como a Arrábida, Sintra ou a Praia da Fonte da Telha. A Maratona Carlos Lopes 15 dias antes dos “caminhos”, transformou o que restava das dúvidas em certezas e esta transformaram-se em numa viagem na véspera para o alto Minho numa bela manhã de Primavera ao som da canção dos “Heróis do Mar” tocada no rádio do carro: “dos fracos não reza a história”, ia fazer a minha primeira ultra maratona.*
* Artigo publicado na Revista Atletismo de Junho

sábado, setembro 01, 2007

Caminhos de Santiago 2007 - Apresentação

O REGRESSO



Depois de cinco meses de ausência eis-me de regresso às actividades bloguisticas.
No dia 18 de Abril fiquei pelo prólogo desta aventura, nas próximas mensagens o relato completo daquilo que foi o "I Caminho de Santiago Trail Aventura".
Obrigado a todos aqueles que apesar da falta de "trilhos" contribuiram para mover o counter deste blog.
Até já

À VOLTA DO SANTIS ( PARTE I)

Como o planeado saí de Konstanz para passar uns dias com um amigo nos arredores do cantão suiço de Sankt Gallen. Não tinha...