quinta-feira, julho 30, 2009

41º 66 José Neves Lebres do Sado M-40 09:11:47








Fotos: Joaquim Margarido - AMMA Magazine

Mais de nove horas em prova no UTSF não são o meu recorde de permanência em competição, nem o mais longo que tive numa actividade pedestre. No entanto o UTSF foi uma das mais duras e igualmente uma das mais bonitas em que já estive.
Acerca do tempo de permanência em provas, faço aqui o "histórico": comecei em 96 com uma 1/2 maratona em 2hrs ( já não fazia uma prova de corrida desde os meus 13 anos), depois e no mesmo ano fiz um triatlo "Olímpico" em 3h30 ( 1550mts x 40km x 10km). No ano seguinte um triatlo longo em Odemira fez-me "gastar" mais de 7hrs ( 3100mts x 120km x 25km). Atingi o máximo já neste século em 2001 em Ibiza no Iromman "Hombre de Hierro" com 13hrs25m ( 3800mts x 180km x 42,125mts). Mas a descoberta das corridas de aventura em 2006 e depois o retorno em 2008 com raids de 2 dias e mais de 26hrs ( a maioria interrompidos durante a noite para descanso dividindo este tempo em 2 dias, ou mais recentemente em versões non stop por mais de 22hrs ) continuam a "pulverizar" tempos. O mais recente recorde foi no Estoril XPD Race 2008 no qual estive mais de 42hrs (!) consecutivas em competição, isto é, sem descansar ( apenas travado por uma indisposição, se continuasse chegaria até próximo das 60hrs, mas isso é uma história que ainda está por contar). Aonde e como será o próximo?

Mas vamos lá finalizar esta série com o último episódio.

Depois do Covelo do Paivô, atacamos o difícil trilho de pedra a meia encosta que vai até Regoufe. Já o tínhamos feito em 2008 na prova das CA´s de boa memória ( 1º lugar elite mista). É um trilho técnico e duro que vai subindo, para depois descer até se avistarem as primeiras casas da Aldeia. A partir desta entra-se no trilho que nos leva a Drave e as perspectivas da Serra abrem-se a cada passada. Percebe-se que estamos num cenário único e vasto que contrasta com a pequenez que habitualmente nós os portugueses por defeito cultural, tratamos tudo o que é nosso. A Aldeia de Drave descobre-se numa súbita viragem do trilho para a esquerda. Parece que o tempo parou ali e se não fosse ser despertado pelas cores garridas da roupa e aplausos dos escuteiros que tomaram recentemente o espaço para refúgio permanente e exercitarem os ensinamentos do Baden Powell, diria que era naquele instante um viajante do tempo a entrar numa aldeia do séc. XII.
A partir daqui começa o chamado "empeno", sobe-se a garra que vai até próximo do alto de Drave e voltamos a descê-la até à Aldeia da Coelheira. Esta mais uma aldeia abandonada que parece "hibernada" na história ( a espera que alguém lhe devolva a vida, sem esquecer a vida de outrora). Daqui segue-se num trilho fantástico junto a uma ribeira para depois começar a maior subida continua de toda a prova. Nesta, fomos passando por malta que nitidamente havia estoirado e amaldiçoava a prova e respectivo organizador com palavras feias, algumas impreceptíveis ditas entre a tomada de fôlego o cansaço e a surpresa da encosta que tinham pela frente. Ria-me dos impropérios e incentivava os mais desanimados quando ainda falavam mais de 25km, mas falar da distância em falta, era tabu naquele momento.
O bastão que levei e que arrumo rapidamente quando não preciso dele, ajudou-me bastante a poupar o desgaste que já ia sentindo nos joelhos e músculos após estas duas subidas. No entanto sentia-me animado, o facto de estar a fazer a prova com o meu irmão e de estarmos quase sempre a conversar, impedia-me de "tropeçar" em maus pensamentos. Desta forma a impressão foi a de que chegamos depressa ao abastecimento dos 40km, onde pouco estivemos apesar da abundância de petiscos que nos convidavam a ficar mais um pouco. Ali apenas descalcei as meias para tirar as pequenas pedras que ainda trazia da travessia do rio, comi umas bolachas e "enchi-me" da mistura de coca-cola com água que nos abastecimentos anteriores já tinha provadoe que me estava a saber muito bem sem provocar a habitual azia da bebida causada pelo excesso de gás.
Uns quilómetros mais à frente começa uma descida pedregosa que se tornou mais dolorosa que as subidas anteriores, era a Freita a deixar a sua marca! Depois do abastecimento dos 50, juntamo-nos a um grupo com o qual fizemos todo o planalto serrano até quase à meta. Isto sem antes dar mais uma queda sem consequências de maior, apenas um joelho ensaguentado , sou um tipo com sorte. Reparo que no meio de tanto calhau já não levanto muito as pernas para transpor os obstáculos mais altos, as pernas já pesam cada 1 tonelada cada! Um curva, outra, a Frecha da Mizarela aos nossos pés e a certeza que estamos próximos da meta. Ei-la com o som ambiente de muitas palmas que me souberam tão bem como a sopa quente que depois me foi servida pela organização. Um abraço ao meu irmão e agradecimentos aos meus recentes companheiros de prova deixaram transparecer a enorme alegria que sentia, não por ter acabado, mas por ter estado durante mais de 9hrs num ambiente "naturalmente" fantástico.
Até para o ano!

À Esmeralda, Ângela, António e Velez, obrigado, são excelentes companheiros para estas andanças ( nada que eu já não soubesse).
Ao Joaquim Margarido, aquele abraço.
Ao Zé Moutinho - a coisa desta vez estava bem esgalhada!

PS - Desculpem se há imprecisões, mas isto de escrever decorridas mais de 15 hrs de trabalho não é pêra doce, serão corrigidas em breve, agora não há tempo.

1 comentário:

Guy de Maupassant disse...

"Tropecei" com o seu blogue por mero acaso.

Perdoe-me o atrevimento, mas não posso, primeiro, deixar de expressar a minha admiração pela coragem e superação amplamente demonstradas e, depois, reforçar também a ideia de que estas aldeias encravadas na serra têm, de facto, um charme muito peculiar.

Cumprimentos
RM

À VOLTA DO SANTIS ( PARTE I)

Como o planeado saí de Konstanz para passar uns dias com um amigo nos arredores do cantão suiço de Sankt Gallen. Não tinha...