A hora de ponta em Amesterdão, não são filas intermináveis de ruidosos e poluentes automóveis com condutores irritados, ansiosos por chegar a casa depois de um dia de trabalho e insularizados num habitáculo metálico preenchido pelo ruído do rádio e respirando o ambiente artificial do ar condicionado. A “rush hour” da capital do país das túlipas são antes bicicletas e mais bicicletas faça sol, chuva, ou os habituais nevoeiros e frio. São milhares de pessoas numa compacta massa de duas rodas deslocando-se num movimento rápido, contínuo e quase silencioso. É um aparente caos que emerge das muitas ciclovias, mas com regras que a maioria respeita e que para quem vem de fora por vezes não percebe. São mulheres e homens elegantemente vestidos, acabados de sair dos seus escritórios a caminho de casa, sobretudo elas com um charme que nunca vi a norte. São mães com dois, por vezes três filhos, num caixote próprio de madeira à frente da bicicleta, no quadro ou num atrelado, outras com a prole que as segue também em duas rodas, muitos não terão mais de quatro, cinco anos. São estudantes, músicos com contrabaixos às costas, funcionários a fazer entrega de compras, imigrantes e turistas adaptados a esta mobilidade, namorados de mão dada sobre rodas, são pessoas de todas as idades, ocupações e condições nos seus afazeres quotidianos, de bicicleta, sobre ar que se respira frio mas pouco poluído.
Eu que venho de um país onde gastamos tanto dinheiro a adaptar as cidades aos carros, esquecendo que a cidade são as pessoas e as suas necessárias sociabilidades. Eu que vivo numa cidade em que os custos da poluição automóvel, dos acidentes, da segurança são enormes, fiquei claro, facilmente impressionado com esta vivência urbana (nota-se). Além disso Amesterdão é uma cidade com bonitos edifícios antigos na sua maioria recuperados, outros novos mas de arquitectura arrojada, museus que vão da arte ao do sexo, mercados de rua, pontes e claro, água, muita água por onde desfilam constantemente barcos, nadam cisnes e outras espécies de aves, mas também se habita nas famosas “casas barco”, com os seus bonitos jardins “flutuantes” e claro espaço para as bicicletas de toda a família.
A profusão de modelos de bicicletas é outra das coisas que chamou a minha atenção. Há as para todos os gostos e funções, desde de carga até transporte de crianças. Outra coisa é o numero bicicletas, são tantas por toda a cidade que por vezes é difícil encontrar lugar para estaciona-las. Os espaços onde podemos por o cadeado, escasseiam e é usual vê-las fechadas no chão aos pares, presas aos sítios mais insólitos. Há também enormes parques de estacionamento, de vários andares, com milhares de bicicletas como o que vi junto da principal estação de Amesterdão, imagine-se a dimensão e o custo da infraestrutura se esta fosse para carros. Custou-me vê-las em destroços depois da dragagem dos canais, ver tantos modelos clássicos tornados “lixo”, deu-me vontade de ser o dono do ferro-velho.
Em Amesterdão pedala-se noite dentro. Por exemplo às duas da manhã ainda há “trânsito” intenso, sobretudo na parte baixa da cidade onde se situam as atracções turísticas como no redlight district, local dos cafés animados da cidade, dos “turísticos” coffeeshops onde de fuma marijuana e haxixe “à la carte” e também ver as famosas “montras” com "profissionais do sexo", muitas delas parecidas com os modelos da “victoria secret”, mas numa versão mais “easy to go”.
Outra das coisas que pude percorrer a pedal foram os muitos mercados de ar livre onde se vendia de tudo como na nossa “feira da ladra” mas sobretudo bicicletas em 2ª mão a bom preço que se pudesse trazia para Portugal, não fossem os custos de “exportação”.
Nos dois dias que tive em Amesterdão, apesar de estar muitas vezes na eminência de provocar acidentes por falta de hábito de pedalar em ciclovias tão congestionadas, eles não aconteceram felizmente, uns despistes, um deles contra um poste, até atinar com o sistema de travagem nos pedais, de resto, nem os vi. O que vi foi uma cidade histórica, agitada, mas de ambiente tranquilo, cosmopolita e tolerante e todas estas coisas com a bicicleta pelo meio. Deixo um conselho, não se detalhem muito quando forem, apenas o essencial, peguem num mapa que conseguem gratuitamente nos muitos locais de alojamento e descubram sem medo, apesar da cidade ser grande, não há perigo de se perderem apesar de tudo ser muito parecido. A parte baixa da cidade, entre a Dam Square e o Red Light é a mais antiga e turística, para mim não foi a mais bonita. Um dos momentos, entre muitos, que retenho como o prazer de me sentir livre a passear de bicicleta, foi no Vondelpark durante uma noite gelada mas com muitas pessoas a fazer desporto e a passear, sobretudo crianças com lindos balões chineses.
Depois de Amesterdão, o próximo será como conheci Berlim a pedalar por um dia. Até breve.
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