A Serra do Louro é uma espécie de “varanda” com vistas “largas” para a península de Setúbal do Tejo até ao Sado. De noite, temos uma ideia mais aproximada da densidade da ocupação humana na região pela quantidade de pontinhos luminosos que são as luzes das casas e fábricas que não param de aumentar neste últimos anos. Apenas a Oeste avisto uma escuridão tranquilizadora que corresponde às matas da Apostiça e Sesimbra, mas também estas prontas num futuro próximo a converterem-se ao luzeiro. Não que tenha nada contra a palavra e conceito de “progresso”, apenas contra aquilo a que se chama “progresso” e que tem provocado feridas insaráveis neste espaço natural.
Tentei explicar esta ideia aos participantes à medida que caminhávamos e olhávamos em redor. Junto às povoações do “ Castro de Chibanes” e “ Alta da Queimada”, transportei os meus companheiros para o passado, fazendo-os imaginar a vida destas comunidades numa noite sem pontinhos luminosos no horizonte, apenas uma noite escura com uma vastidão que se imagina porque se vê de dia e ruídos da natureza, o vento, o rumor dos ramos das árvores no vale o piar de um mocho, o uivo de um lobo, talvez, quem sabe… Mais acima no trilho os moinhos que se reconstroem depois de algumas décadas de abandono, sinal de cultura e interesse de algumas gentes que percebem que o nosso futuro depende da identificação que temos do passado.
Chegamos ao ponto de retorno e digo: “ bem, agora vamos voltar para trás, não pelo mesmo caminho, mas na direcção aonde deixamos os carros”, sou surpreendido com um coro de amigáveis protestos de recusa. Decido improvisar o percurso, vou até ao ponto de intersecção da Serra do Louro com a de S. Francisco, viro na direcção ao vale dos barris por um trilho a meia encosta, mas que vai descendo até este vale, mais à frente subo a famosa "descida da burra”(desta vez convertida em subida) até ao alto da Serra do Louro novamente onde aguardo para ver menos sorrisos e mais máscaras de esforço daqueles que estavam mais atrasados. Não me enganei… afinal já estávamos a caminhar há quase 3hrs e o cansaço começava a notar-se, sobretudo em alguns (poucos) menos habituados a estas andanças. Caminho de retorno, pão quente no final, acabado de sair do forno de padaria serrana (pão fantástico este) que saboreamos junto aos carros com um queijo que alguém oportunamente comprara nessa tarde para fazer umas sandes lá em “casa” e que tão bem soube ao ar livre… ah e condimentado com uma chuva que finalmente cumpria a sua ameaça.
Nas despedidas, exigência que a próxima caminhada seja para breve e projectos de idas a “Gredos”, “Picos da Europa”...com a Claúdia a perguntar-me: “ Zé e porque não vamos todos ao Nepal ver o Annapurna ao nascer do sol?!” “Mas eu já lá estive hoje!” Respondi. Ela com uma expressão incrédula que eu desfaço: "é que para mim as tuas palavras valeram mil imagens”.
--
Posted by Zen to O Homem da Maratona at 10/21/2006 01:52:00
Sem comentários:
Enviar um comentário