Escrevia eu há pouco mais de 7 anos sobre a minha aproximação aos 40. O tempo a partir dos 30 pareceu-me os 100 metros do Usain Bolt.
A " máquina" à medida que se aproxima dos 40 parece que emperra. Um tipo tenta desvalorizar o "desgaste" de algumas peças, mas quando cai em si, repara que já não é, nem "novo", nem "semi novo", mas antes um "usado em bom estado" (por enquanto).
Não sou um desportista de carreira, (re) converti-me há cerca de 11 anos depois de outros tantos do mais puro e duro sedentarismo. Gostei tanto desta nova confissão, que nos primeiros anos tornei-me quase um asceta, sobretudo no Triatlo, ao qual devotei os momentos mais intensos da minha vida desportiva até agora.
Lesões sempre as tive. Lembro-me de uma célebre canelite que teimava em passar e para a qual um veterano me receitou "vinho branco com tintura de iodo". Em desespero estive quase a usar a "mezinha", mas não foi necessário pois preferi seguir os conselhos de um experiente massagista do clube aqui do bairro: "epá, tem calma, quando menos esperares isso desaparece", e desapareceu!
Durante alguns anos progredi, regozijando-me dos meus feitos, modestos claro, mas ainda assim feitos (para quem durante uns anos não fez uma palha, chegar ao fim numa maratona é um enorme feito). Nos últimos quatro anos, impedido de treinar "religiosamente" como fazia antes, engordei uns quilitos. Voltei assim a "pecar" em "velhas" gulas e passei por períodos em que fazer exercício era um luxo face à falta de tempo para outras actividades que considerei prioritárias. Recentemente, motivado por alguma disponibilidade e pela paixão ao desporto, voltei decidido para fazer, meias, maratonas, montanhas, natações, bicicletas, raids, eu sei lá, que mais, mas cedo refreei o meu entusiasmo. Diversos constrangimentos se seguiram: a péssima forma física que me obrigou a "sofrer" mais que do que era habitual nos treinos, os motivos económicos que me impediram de ir às provas que sempre sonhei fazer e depois, novamente as lesões. Se nas primeiras vezes " tinha paciência que isto passava", agora já não há pachorra para tanta caliqueira! São as dores nas costas, são as dores no pé direito, são os joelhos, são... Veredicto da minha maternal médica de família: "não corra mais, nade, ande de bicicleta", eu "mas...parar de treinar corrida? Oh Sr. Dr.ª isso seria como que faltar à missa" ela com um riso condescendente "com o tempo dar-me-à razão". Teimo: " mas correr para mim é um religião" "então torne-se ateu", " mas eu sou agnóstico positivista Dr.ª" ela suspira e vejo-lhe por breves momentos a vontade de me mandar para um internamento forçado psiquiatria.
Regresso abatido a casa, não treino há uma semana. Bebo quase uma garrafa de vinho branco ao jantar, fumo um cigarro daquele maço que me dura meses, e penso que merda esta dialéctica do corpo e da alma aos 40, quando o primeiro não quer, a segunda quase se suicida!
Posted by Zen to O Homem da Maratona at 5/18/2006 08:51:00 AM
2 comentários:
Mas andar de bicicleta não é assim tão mau... pelo contrário!
Parar é que não pode ser!
Vá lá...
Luis obrigado.
Parar é morrer!
Abraço
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